quarta-feira, 14 de abril de 2010

Laranja Mecânica: Patologia Social e Behaviorismo


O filme Laranja Mecânica (A Clockwork Orange) se passa numa sociedade futurística e metafórica na qual percebemos haver várias desordens sociais. Segundo Émile Durkheim, a desordem social deve ser tratada como uma patologia para que não afete a sociedade como um todo. No filme, percebemos instituições como a Família, o Sistema Penitenciário, o Governo e a Polícia como possuidores de inúmeros conflitos que prejudicam o bom funcionamento holístico da sociedade.

O filme conta a história de Alex de Large, um jovem que não estuda, não trabalha e que, juntamente com a sua gang de criminosos, pratica assaltos, estupros e assassinatos. Durkheim parte do princípio de que o homem deixa de ser um simples animal selvagem quando aprende hábitos e costumes característicos de seu grupo social para poder conviver em sociedade.

Alex não aprende a viver de acordo com as normas sociais por ser fruto de uma sociedade doente. Juntamente com o seu bando, Alex pratica uma série de crimes e certa vez é preso e condenado a 14 anos de prisão.

O Estado, numa tentativa de mostrar-se ainda eficaz, lança o método Ludovico que consiste na recuperação de presos para que retornem ao convívio social. A técnica baseia no behaviorismo, um campo da psicologia que afirma, segundo John B. Watson, que o comportamento é condicionado através do estímulo/ resposta, principalmente quando o indivíduo sofre alterações no sintema glandular e locomotor.

Em Laranja Mecânica, Alex é submetido a sessões de tortura que, graças a uma substância que lhe é injetada, o fazem vomitar quando este assiste a cenas de sexo e de violência extrema. As sessões de tortura são repetidas inúmeras vezes até que o organismo de Alex não mais necessite da substância e reaja com náuseas automaticamente quando assiste às cenas.

Tal experimento assemelha-se ao realizado por Ivan Petrovich Pavlov com um cãozinho. Quando avistava a comida, o cachorrinho respondia salivando. Pavlov passou a tocar uma sineta toda vez que alimentava o animal. Depois de determinado tempo, o animal salivava apenas ao ouvir a sineta.

No filme, o Estado faz uma demonstração pública afim de informar à sociedade a eficácia do método utilizado para restabelecer o convío social dos criminosos. Alex ganha, então, a liberdade. Ele retorna para a mesma sociedade patologicamente deficiente de antes.

Émile Durkheim e John B. Watson defendiam a ideia de que o homem era um animal selvagem que aprendia a viver socialmente ao observar o funcionamento das instituições e o comportamento alheio. No entanto, ambos estudiosos afirmavam que todo indivíduo possuía desejos próprios que o distinguiam dos demais indivíduos. E, portanto, Alex, no final do filme, não nos surpreende ao nos reafirmar os seus desejos primitivos.

Por Jurdiney da Costa Pereira Junior


Livros:
BURGESS, Anthony. A Clockwork Orange. 1962
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. 1895


Filme:
A Clockwork Orange. 1971.
dir. Stanley Kubrick.

9 comentários:

  1. Interessante. Mas não citou Pavlov nem Skinner.

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  2. Olá! puxa vida,fiquei feliz em ter encontrado seu blog,eu adoro filosofia e fiz um post recentemente justamente sobre essa tal de Laranja Mecânica! hahaha =)

    Muito bom mesmo,escreveu de um modo breve e ótimo! Admiro isso, mesmo mesmo mesmo , hahaha, se olhar meu blog vai perceber que escrevo muiiito,as vezes acho que não sintetizo muito as informações...mas enfim, adorei o post, A Clockwork Orange pra mim é uma obra incrivel e é diferente de qualquer outra obra tanto literária quanto cinematográfica...filosofar é o que mais da pra fazer baseado na história ;)

    seguindo também =D até mais!

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  3. parabéns muito bom sua análise. mesma idéia que a minha.

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  4. Além das referencias sociológicas citadas e muito bem exemplificadas no filme percebi que Kubrick expõe uma crítica precisa ao teorico absolutista Thomas Hobbes, sobretudo na primeira parte do filme, quando Alex é coibido pela tecnica Ludovic. Hobbes diz, em sua obra "Leviatã", que o homem deve abdicar de suas liberdades, de seu status quo, para que a autoridade máxima, ou seja, o Rei que representava o Estado por meio da vontade divina, possa exercer poder absoluto a fim de manter a paz interna. Todavia, percebemos que após a maior revoluçao burguesa, a Revolução Francesa, e as demais revoluções de 1830 e 48, o Estado, para se manter precisou do poder econo mico e político da burguesia e é justamente isso que acontece quando, na segunda parte, o ministro da Relaçoes Exteriores volta para buscar apoio de Alex para se legitimar. Kubrick, de forma criativa, inventiva e contextualizada, desvela acontecimentos da Idade Moderna e início da Contemporanea, ou seja, o cara merece estar entre as lendas do cinema.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. É importante fazer a referência de que a técnica não se baseia no behaviorismo radical, mas sim nos experimentos de um fisiologista russo chamado Pavlov.Sob muitos aspectos, as críticas que o filme traz estão de acordo com a visão behaviorista, como a visão de um tratamento das pessoas de forma descontextualizada.

    A análise de contingÊncias é base desse behaviorismo e através dela perceberia-se a desadaptabilidade na qual alex se encontra.Além disso, o behaviorismo radical é , de uma forma geral, contra o uso de punição para o aprendizado por criar problemas psicológicos diversos.

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  7. Muito interessante, amo o livro, vi o blog na comunidade, estou seguindo, se lhe interessar de uma passada no meu, beijos e abraços.

    http://atosfalhosid.blogspot.com/

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  8. Bacana, mas não faz jus ao behaviorismo radical (de Skinner) mas somente condiz com o behaviorismo metodológico (de Watson).

    Devemos levar em conta que o behaviorismo radical JAMAIS aceitaria os métodos utilizados com a personagem do filme. Esse filme é excelente, mas é uma pena que passa uma imagem totalmente distorcida do behaviorismo (um behaviorismo que já é considerado ultrapassado e ineficaz).

    Caso tenham achado a ciência do comportamento algo desumano, vocês foram iludidos. Não se sintam mal, a grande maioria das pessoas veem o behaviorismo da perspectiva de Watson (que é semelhante a apresentada no filme).. Já o behaviorismo de Skinner é lindo.. busquem ler Skinner e Catania pra conhecerem um pouco mais e verão que não se assemelham em nada com a imagem que esse filme passa.

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