quarta-feira, 23 de junho de 2010

Tarzan e o Etnocentrismo


O filme Tarzan – O Homem Macaco (Tarzan, The Ape Man) conta a história do explorador inglês, Sr. Parker, que vai até a África em busca de marfim. Percebemos que o filme é uma ilustração do imperialismo dos países ocidentais presente no início do século XX. Jane, a filha do Sr. Parker e a única mulher de todo o filme, nos apresenta a figura da mulher feminista que também é capaz de desbravar os safáris africanos. E, além disso, traz-nos elementos importantíssimos para compreensão do filme.

O conceito Etnocentrismo de Claude Lévi-Strauss é muito bem marcado no filme. Para ele, o etnocentrismo consiste no repúdio das demais formas de culturas em detrimento da valorização de uma única cultura. No caso do filme, há uma valorização da cultura do homem branco ocidental sobre as tribos africanas que são representadas como inferiores, primitivos, selvagens e sendo, inclusive, escravizadas para benefício do homem branco, representado pelo Sr. Parker.

Tarzan é um homem branco que nunca tivera contato com a civilização ocidental pelo fato de ter sido criado por macacos. Ele possui uma autoridade em relação aos animais quando mata e domina muitos deles ao longo do filme. Domínio este que deveria ser atribuído ao conhecimento das tribos africanas. Porém é Tarzan, e a figura do homem branco que detém a soberania diante dos animais e das tribos africanas. Ressaltando o etnocentrismo definido por Lévi-Strauss.

Tarzan acaba por raptar Jane Parker. No entanto, aos poucos, a visão etnocêntrica de Jane dá lugar a visão observacionista e participativa proposta por Clifford Geertz. Para o antropólogo, o pesquisador ou alguém interessado em estudar ou se aproximar de uma cultura diferente da sua deve fazer uma observação participante desta cultura. Para isso seria preciso interagir com esta cultura apresentada e tentar compreender seus integrantes a partir de seus pontos de vista só assim possível, para Geertz, fazer uma descrição densa desta cultura. É o que Jane faz. Passa a conviver com os macacos (pois foram eles que criaram Tarzan) a ponto de tentar compreendê-lo. Jane, então, consegue se comunicar com Tarzan, ensinado-lhe algumas palavras e até mesmo consegue se comunicar com o chimpanzé, Chita.

Nas cenas em que Jane se comunica com Tarzan também é possível perceber o imperialismo muito presente na época. No final do filme, Tarzan cristaliza-se como herói quando mata um gorila que era símbolo de virilidade e voracidade para uma tribo local. Vejam que Tarzan mata aquele que lhe era comum em detrimento de uma soberania branca. Ressaltando, mais uma vez o etnocentrismo.

Por Jurdiney da Costa Pereira Junior.

Livros:

LÉVI-STRAUSS, Claude. Raça e História. In: Antropologia estrutural – dois. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1993.

GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989

BURROUGHS, Edgar Rice. Tarzan of the Apes. 1912

Filme:

Tarzan, The Ape Man. 1932
Dir. W. S. Van Dyke

5 comentários:

  1. Muito bom esse blog. Diferente du tudo que já vi e a resposta para muito do que procurava. Obrigado por compartilhar,
    abraço!

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  2. Sua crítica é muito interessante. Este é um exemplo clássico da busca da soberania branca em termos de cultura e cinema. E o Tarzan não é nenhum "negão" e, por isso, é o cara também. Os sentimentos, maneiras de relacionar e se afetar das demais culturas estão sempre sendo menosprezadas, bsta olhar um pouco mas atentamente, como vc fez, para perceber.
    Parabéns. Voltarei aqui muitas vezes.
    Abraço!

    www.costabbade.blogspot.com

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  3. Muito Lúcido o texto. Sobretudo num momento de pós-desarticulação do socialismo à maneira do leste europeu. Observa-se que o vácuo deixado pelo universalismo faz eclodir em toda parte da Europa novas doutrinas identitárias eco-reducionistas,que culpam o multiculturalismo pela suposta perda de suas singularidades. Em suas bases programáticas,é visível a falta de rigor analítico em que destaca-se o repatriamento à praso fixo de todos não europeus, ou seja não brancos.

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  4. Adorei seu blog, inclusive sou seguidora. Se quiser pode visitar o meu www.palavrasdalane.blogspot. com
    Abrsços

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  5. MUITO BOM.
    ESTOU NA PESQUISA DO ENTENDIMENTO FILOSOFICO POR TRAS DA MIDIA EM GERAL. GOSTEI. PARABENS.














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