segunda-feira, 12 de julho de 2010

Fahrenheit 9/11 e o Heroísmo nas Múltiplas Narrativas

O documentário Fahrenheit 9/11 começa especulando sobre a vitória de George W. Bush nas eleições americanas de 2000 sobre o candidato Al Gore. O diretor Michal Moore nos leva a entender que o primo de Bush, John Ellis, revelou através da rede de TV na qual trabalhava, a FOX News, a informação de que George W. Bush havia ganhado as eleições no Estado da Flórida. Mesmo Estado que estava sob governo do irmão de Bush e que, através de negociações fraudulentas, teria eliminado a contagem de votos de pessoas de cor de pele negra no Estado, ou seja, que não votariam em Bush.

No filme, Michael Moore nos leva a crer que a mídia, mais precisamente a FOX News, argumentou narrativas a fim de beneficiar George W. Bush. Então, o diretor do filme, parte para a construção de uma narrativa que descontrua a imagem de bom político de Bush diferente a que estamos habituados a receber. Moore apresenta inúmeras imagens de George W. Bush em seu dia a dia durante o período de férias. Bush aparece pescando, jogando golfe e brincando com o seu cachorro. Tudo para dessocializar sua imagem à de presidente dos EUA com o intuito de modificar a opinião pública que o público formou através da mídia a respeito do então presidente e, com isso, libertar esse público daquilo que Moses Finley define como “apatia política”, isto é, o sentimento de rejeição à política.

Em seu livro, "Opinião Pública”, Walter Lippmann defende a ideia de que a verdade é sempre mediada e nós devemos acreditar ou não nestas mediações e que estas mediações exercem papel importantíssimo para a criação de uma opinião que formamos sobre um daterminado sujeito, neste caso George Bush. E sabemos que a mídia produz diferentes narrativas a respeito de um mesmo fato. Isso implica com o conceito de verdade defendido por Platão.

Platão e Aristóteles também acreditavam que a única forma para que a obtenção do conhecimento fosse possível, seria através do conhecimento da verdade absoluta e, somente ela, seria capaz de fazer com que a vida moral também fosse possível. E o processo para adquirir o saber é o diálogo, por isso, diz-se que Platão fazia uso da dialética como forma de aprendizagem por acreditar que esta seria a verdadeira indagação viva da verdade mediante o discurso e a conversação.

No entanto, por mais verossímil que possa parecer o filme, não devemos esquecer que ele também é uma produção midiática e faz uso de narrativas para convencer o espectador de que aquele, dentre muitas, trata-se da verdade absoluta.

Por Jurdiney da Costa Pereira Junior.


Livros:

PLATÃO. A República de Platão. Editora Jorge Zahar. Rio de Janeiro: RJ, 1995.

LIPPMANN, Walter. Opinião Pública. Editora Vozes: Petrópolis: RJ, 2008.

FINLEY, Moses. Democracia Antiga e Moderna. Graal: Rio de Janeiro: RJ, 1988.



Filme:
Fahrenheit 9/11. 2004.
Dir. Michael Moore.

4 comentários:

  1. Uma ferramenta de narração observada no documentário e que é comum a Platão é a construção a partir de perguntas retóricas. Em ambos, a explanação da "verdade" é precedida por indagações que os próprios autores, tanto Michael Moore quanto Platão, respondem na sequência do "diálogo".
    Esse link filosófico foi muito bem construído!

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  2. gostei da idèia deste Blog..estarei atento aqui ..gosto muito de cinema e tenho um cine clube..abraços!!

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  3. Cara, excelente seu blog, parabéns! Dou aula de sociologia e filosofia no ensino médio, então vou seguir seus posts, pra pegar as dicas! Abraço!

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  4. Assisti por duas vezes o documentário e o texto do Júnior está bastante explicativo e suscinto. parabéns, irmão. A partir de agora, adiro ao blog.

    Abração à todos.

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